“A felicidade dos outros me interessa, pois suas infelicidades atrapalham a minha felicidade”.
John Stuart Mill
Definindo ética como “um acordo de não causar dano injustificado” (legítima defesa é, como diz o nome, justificada, p.e.), abre-se um leque de possibilidades de como absorvê-la, como implantá-la em nós.
Vai desde o temor das leis e da força do Estado que as impõe, até achá-la bacana e querer tê-la como virtude cultivada: o desejo de ética. O desejo de contribuir positivamente vai além: é a ética ativa.
Mas como nosso assunto é psicanálise, vamos nos focar no que se passa dentro de nossas cabeças: natureza humana, desejos egoístas e predadores, cooperação, consciência moral, sentimento de culpa, medo do desamparo, do banimento social, medo físico. Conflitos íntimos, guerra interna, dilemas existenciais.
Coisas que acontecem no cenário que Freud desenhou:
.no Id (“Algo em mim”: as forças inconscientes herdadas, os dramas históricos esquecidos de nossa criação);
.no Superego (“O que está acima de mim”: nosso juiz interno, acusador que usa nossos medos para que cumpramos suas leis; junto com ideais de perfeição inatingíveis que sempre nos olham como faltosos, em eterna cobrança).
.no Ego (o “Eu” que sentimos ser, que tenta mediar o embate dos dois Titãs anteriores e que, como o marisco, sofre entre o mar e o rochedo).
Se houver guerra interna, se o reprimido no Id for se transformando no cão furioso, vai-se precisar de um carcereiro com grandes poderes de ameaça: o Superego. Mas isso implica não haver espaço para o Eu, eu não poderei desejar de maneira ética, bela, virtuosa. Só haverá soluços de transgressões, resultando em medo e culpa depois.
Mas, assim como a filosofia nasceu da paz, do tempo de refletir, conversar, cultivar o espírito, a mesma coisa pode nos acontecer. Em duas situações: souberam nos criar bem (algo totalmente excepcional, pois criar filhos é o trabalho mais difícil que existe, e os pais, portanto, esbanjam incompetência no assunto).
A segunda situação é a melhor possibilidade da psicanálise: ela ter o papel de pacificadora, entendendo a guerra, os interesses das duas partes em conflito, a serviço do nosso Eu. Seu melhor instrumento é promover a justiça histórica.
Acalmado o cão, o carcereiro pode ter uma digna aposentadoria. O cultivo da felicidade pedirá à sabedoria de John Stuart Mill sua bússola para o desejo de ética: “a felicidade dos outros me interessa, pois suas infelicidades atrapalham a minha felicidade”.
Compare agora isso com o Imperativo Categórico de Kant, o lema da ética de Superego: “Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais”.
Ou seja, só faça aquilo que possa ser feito por todos os humanos, caso contrário, você estará sendo antiético.
Compreende quando eu digo que o Superego impõe ideais inatingíveis?
O Ego aqui prefere o John...
A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD
Disponível em: https://7letras.com.br/livro/a-criacao-original/
Eu também prefiro o John
ResponderExcluir