quinta-feira, 18 de março de 2021

O SUPEREGO E O DESEJO DE ÉTICA 1 - O AMIGO PERGUNTA

 



Marcio Fagundes: “Precisamos do Superego para sermos corretos?”

FD: Obrigado pela pergunta; essa é uma questão central na prática/teoria da psicanálise.

Este é um tema em que toda a sua compreensão da complexidade precisa estar presente. Vou falar bem e vou falar mal do Superego; ambas as coisas valerão. Cada pequeno parágrafo será válido, não invalidará nem o anterior, nem o próximo.

O Superego se parece com o carcereiro de um cão furioso/libidinoso/exagerado: solte o cão, e você verá as consequências...

Mas sua presença, e a existência de uma prisão, mantêm o cão em estado de fúria. Ou seja, o emprego do carcereiro não é só conter o cão; é também manter a má fama do cão. E sua fúria! Assim, o carcereiro mantém assim seu emprego e sua importância.

Que tal se nos aproximássemos aos poucos e examinássemos o cão (e o carcereiro) sem todas as cargas de preconceito sobre eles? Que tal conhecer o cão? Que tal conhecer o carcereiro?

Que tal conhecer a pessoa que carrega e mantém – com muito medo – cão e carcereiro como intocáveis, mas sabendo que o peso desse fardo lhe verga as costas e atrasa imensamente sua vida?

Eis o dilema do psicanalista: ele escolherá o reforço do sistema da carceiragem? Ou ele preferirá ser o laborioso investigador da política repressora que a doença de seu cliente contém?

Infelizmente, a história da psicanálise está cheia de reforçadores do sistema da carceiragem. Há muitos teóricos da psicanálise que foram apoiadores do Superego. Há poucos investigadores. Mesmo que Freud, seu inventor, tenha apostado completamente na investigação.

É compreensível: apoiar o Superego é mais simples. Dá respostas rápidas. Dá conselhos – mesmo que esses venham disfarçados de silêncios e de mistérios, os “conselhos que se envergonham de assim ser”. Investigar exige mais que isso...

O que nos leva à questão inicial: qual a relação da ética com o Superego? Pode haver ética sem ele? Pode haver desejo de ética?

(Prossegue em “O Superego e o desejo de ética – 2”).



 
 A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD



 

 


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