Quantas vezes você já ouviu alguém responder com um simples “não sei” a uma pergunta?
Ok, você pode responder a essa com um “não sei”, mas sendo “impressionista”, você diria que é frequente ou que é raro?
Muito mais comum é se ouvir “ah, vai ver que é porque...”, ou “eu acho que...”
E a partir daí, a pessoa preenche o vazio de seu conhecimento com o pensamento mágico.
Não há nada de errado nisso, é simplesmente um aspecto da natureza humana: o desconhecido nos causa medo, pode conter uma ameaça. Haver uma resposta para tudo é tranquilizador.
Quando pequeno, eu quis saber por que havia trovões durante as tempestades de verão. “Ah, é porque estão fazendo faxina no céu. Não vê a água que cai de lá? Estão lavando o chão. Os trovões é quando arrastam os móveis”, explicou-me a minha babá. E eu fiquei mais calmo...
A tradição oral, a Bíblia, os mitos, os oráculos, as videntes, as estrelas e as religiões continham todo o saber necessário. Estava escrito, os sábios disseram, e a humanidade se tranquilizava.
Foi quase anteontem, a primeira vez na história em que se disse, “Ei, espere, eu... não sei! Mas quero saber!” Há uns 500 anos apenas: o Iluminismo. O nascimento das ciências. A ignorância assumida que motivou a investigação, a pesquisa, as descobertas, a revolução científica.
Assumir o “não sei” é, pois, uma virtude. É o “não sei” curioso e interessado que nos moverá às descobertas.
Imagino um futuro psicanalista lendo estas linhas e ganhando o direito de dizer “ainda não sei” para si mesmo, afastando de si a tentação de interpretar tudo com tiradas espertas, quase místicas, certamente esotéricas e obscuras.
Um futuro psicanalista descobrindo que a ignorância assumida não é uma vergonha, mas o começo da busca do verdadeiro, uma virtude trabalhosa.
Como todas as virtudes o são: o prazer não é imediato, e sim construído.
A CRIAÇÃO ORIGINAL - A TEORIA DA MENTE SEGUNDO FREUD
Disponível em: https://7letras.com.br/livro/a-criacao-original/
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