Sinônimos: pão-durismo, apego, avidez, mesquinhez, sordidez, sovinice, tacanhez, usura.
Controle, é do que se trata.
Freud usou as fases do desenvolvimento do bebê descritas por Karl Abraham, e retratou a fase anal como a primeira grande queda de braço entre um pequeno ser, que já consegue controlar seus esfíncteres, e as exigências impostas pela sociedade: é preciso usar adequadamente o banheiro.
Isso poderia ser o aprendizado de um conforto (reconheça-se, ir ao banheiro, em vez de se sujar todo, é um conforto). Mas não, se os pais o exigem do jeito deles, na hora deles, na quantidade que eles querem...
A rebeldia da criança pode ter uma fase transgressora em que ela prende no vaso e solta na sala (já é uma afirmação de “Eu controlo, e controlo errado, tá bom?”). Digamos que seria uma reação hippie da criança, contracultural.
No outro extremo está a reação hipercultural: “Eu controlo tão bem, mas tão perfeitamente, que ninguém nunca mais precisará mandar em mim, nem sequer me corrigir. Eu sou perfeito! Eu me antecipo!” Estão lançadas as sementes do caráter obsessivo.
O equivalente menos concreto a esse “soltar a merda” seria o “mandar à merda”: o gerenciamento civilizado da raiva.
A raiva é essencial para corrigir as injustiças que sofremos. Mas se a criança aprende, nesta nova queda de braço com a cultura, que raiva é feio, e que ela não deve soltá-la nunca, novamente ela pode ter duas reações extremas: a briguenta contracultural; o bonzinho obediente hipercultural. O primeiro espalha merda (metafórica) por onde passa; o segundo sofre de prisão de ventre (também metafórica, torna-se retentivo).
Poderia parecer que a avareza seria exclusividade do retentivo, mas ela é risco dos dois extremos: eles são prisioneiros da necessidade de controle (o segundo controla onde se descontrolar).
Mais uma vez: nada contra a obsessividade, ela é ótima... quando nos é um instrumento. O problema é quando ela passa a mandar em nós.
Os vícios comportamentais derivados da avareza são todos de excesso de controle. O de domínio/submissão: tanto o tirano que não divide poder com ninguém, que impera sobre seus súditos com mão de ferro, seja em casa, no trabalho ou na política; quanto o dominado, que diante dele rasteja: ambos aprisionados ao mesmo ventre.
Sim, você entendeu bem, domínio/submissão é quase igual a sadomasoquismo, só que diferente.
Mas uma história de consultório une os dois: “Quando eu pagava as putas, mesmo sendo aquela miséria, as desgraçadas estavam me fazendo sangrar, tirando o meu dinheiro! Ah, elas iam me pagar de volta! Por isso, o meu sexo era o mais violento possível, elas choravam de dor, eu as xingava de vagabunda, de ladra. Eu as esculachava... e elas adoravam!”
Repararam a dor da avareza? Ele “sangrava” o dinheiro...
Outro vício derivado da avareza é a acumulação. Nada pode se perder; há uma dor, um sangramento em se jogar fora ou dar alguma coisa. A racionalização é de que “isso pode ter alguma utilidade, mais tarde; nunca se sabe...”
Uma acumulação curiosa é a que une retenção à “bondade”: os acumuladores de cães e gatos. Eles não perdem nenhum, e ao mesmo tempo exercem sua hiperbondade: sentem pena dos bichinhos desvalidos.
Está tudo sob controle. É tudo sobre controle.
(Na foto, Ebenezer Scrooge, “Christmas Carol”, Charles Dickens)
Nenhum comentário:
Postar um comentário