sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O AMIGO PERGUNTA - “Qual a importância do diagnóstico, em psicanálise?”

O AMIGO PERGUNTA 
“Qual a importância do diagnóstico, em psicanálise?”

Francisco Daudt: Se a psicanálise praticada acredita em doenças, acredita em tratamento e acredita na busca da cura daquelas doenças, ele precisa começar fazendo um diagnóstico.

Para mim, que vim da medicina clínica, foi inacreditável perceber que alguns psicanalistas não se preocupavam nem com diagnóstico, nem com a busca da cura. Que diabo, então, eles faziam? Continuo sem entender. Ouvi de um que “o objetivo da psicanálise era a busca do inefável”. Entendi menos ainda...

Bem, não era problema meu; o que eu tinha em mente era reproduzir na psicanálise o que fazia na clínica médica: a primeira consulta (entrevista) tem como objetivo fazer um diagnóstico; saber o que atormenta o cliente, a causa próxima de sua busca de ajuda, entender os sofrimentos prementes – hoje eu chamo de “tirar as farpas” – para estender minha compreensão aos problemas de fundo, as personalidades (obsessivas, narcísicas, histéricas), as neuroses, os vícios, os estados depressivos etc.
Sem esse mapa, como iniciar a engenharia reversa, a investigação de como se armaram as doenças e os tormentos de meu cliente? Como pensar a estratégia de seu tratamento. Sim, “psicoterapia analítica” significa “tratamento pela psicanálise”. E tratamento supõe doença.

O problema seguinte era montar uma psicopatologia (estudo e classificação das doenças psíquicas). Tente achar um bom livro de psicopatologia psicanalítica, e vai experimentar um bocado de frustrações. Eu mesmo passei anos achando que o Santo Graal da psicopatologia era um livro esgotado de um argentino, indicado por meu analista formador. Finalmente, um amigo esteve em Buenos Aires, achou o livro numa biblioteca e o xerocou! Outra decepção...

Tive que rastrear a obra de Freud (poxa, professor, o senhor poderia ter feito um livro só de psicopatologia, mas não: teve que espalhá-la ao longo de todos eles, e nos dar um trabalhão...), mas afinal consegui montar uma base.

Ela vem se depurando ao longo desses 45 anos de clínica, e estará no meu próximo livro, “O Amigo Pergunta – a psicanálise em linguagem chocantemente clara” (que aguarda o fim da pandemia para ser lançado).

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