Apesar de serem assim chamados, os pecados capitais não são pecados em si, são tendências viciosas que se tornam “cabeças” (capitis, em latim) de atos pecaminosos, dão origem a eles.
São eles: soberba; avareza; luxúria; ira; gula; inveja; preguiça. Comecemos pela...
SOBERBA: imodéstia, afetação, arrogância, atrevimento, convencimento, desdém, egoísmo, empáfia e presunção são alguns de seus sinônimos.
A atitude de alguém que “se acha”, ou pior, que “se tem certeza”, pode ser episódica, ocasional, relativa a um assunto. Será lamentável, mas até aí não houve nem pecado nem vício. Quando não é doença, psicanálise não tratará dela.
Mas quando ela toma conta da pessoa, aí sim, temos um vício, uma doença. Por definição, um vício é um acontecimento mental (com ou sem ato externo) compulsivo (“mais forte do que eu”), repetitivo, alugador da mente, monotemático, que causa satisfação imediata, e dano a si e/ou aos outros em médio/longo prazo.
O principal vício derivado da soberba é o sadomasoquismo, em vários graus de sutileza. Nele, há um que humilha e fere, e outro que é ferido e humilhado.
Isso vai desde a caricatura sexual de botas, chicotes, algemas etc., até a crítica ferina, demolidora, sarcástica, irônica, que passa o rodo, que achincalha, esculacha, dói, machuca e... humilha.
O sadomasoquismo sutil do fodão-merda (winner-loser) é o vício comportamental mais disseminado em todo o mundo: o daquele compensa a própria insegurança, sua baixa autoestima, através de humilhar os outros. Basta olhar as tretas de internet para vê-lo em ação. Há até presidentes em grandes países que são caricaturas do fodão-merda, em constante necessidade de afirmação de seu poder.
Você dirá que entende isso da parte do sádico, mas... e a do masoquista? É que não há só sádicos ou só masoquistas; uma pessoa é escancaradamente sádica e sutilmente masoquista. E vice-versa. O “masoquista” se envolve no jogo com a secreta nobreza do martírio. Ele, que apanha, é grande, superior; o outro, que bate, é inferior, um merda. Mas jamais ouvirá isso do mártir...
Yuval Harari, em seu “Sapiens”, aventa a hipótese curiosa de que a soberba seja parte da natureza humana: nós somos o único animal que tem consciência de sua fragilidade, e efemeridade; o único sabedor de que a morte o espera.
Isso nos compele a passar a vida afirmando nossa força e negando nossa morte através de uma grandeza inventada: é a soberba
Nenhum comentário:
Postar um comentário