terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O AMIGO PERGUNTA - “Qual a diferença entre ansiedade e angústia?”

 


O AMIGO PERGUNTA

“Qual a diferença entre ansiedade e angústia?”

Francisco Daudt: Angústia é medo, sentimento de ameaça; ansiedade é querer que tudo aconteça logo, fazer tudo logo, pra acabar logo, pra ver se deu certo logo. Elas são aparentadas, porém diferentes.

Angústia, na origem, significa aperto, estreiteza. Os médicos chamam de “angina” (angor pectoris) a dor com aperto no peito causada pela insuficiência de oxigenação do miocárdio (conhecida como “ameaça de infarto”). “Angst” é medo, simplesmente medo, em alemão.

De forma que podemos traduzir angústia por medo, é o jeito mais simples. O medo causa um aperto, mais na boca do estômago, e em outras partes anatômicas (daí o “quem tem cu, tem medo”).

Mas, se a casa começa a pegar fogo, sentimos um medo inequívoco que nos faz fugir.

O medo/angústia é mais sutil, ele acontece a partir do que diz nosso Superego: “Vai tudo dar errado, a sifudência te aguarda, ninguém mais vai gostar de você!” Ele pode ser causado por raiva complicada, p.ex.: você está irritado com uma pessoa amada; não é nada simples mandá-la às favas, você não sabe como resolver essa raiva, a ameaça de desamparo aparece... e com ela, a angústia.

É preciso, pois, distinguir uma angústia produtiva de uma inútil. A primeira, como no incêndio, nos leva a tomar providências de correção da causa. A segunda pode ser resultado de um aparelho leitor distorcido: um Superego cruel, uma depressão.

Mas pode ser resultado de uma condição diante da qual estejamos impotentes, pelo menos temporariamente, como a pandemia, enquanto a vacina não vem.

Cabe ao psicanalista fazer a distinção, entender o processo que causa angústia, para torná-la cada vez mais sinal de que providências precisam ser tomadas. Tornar o cliente mais e mais dono de sua vida e de seus processos. Aumentar sua capacidade de resolver seus problemas.

A ansiedade é uma coisa curiosa: pode ser “do bem” (“estou ansioso pelas minhas férias”; “o melhor da festa é esperar por ela”); mas pode ser “do mal”, consequência de um caráter obsessivo perfeccionista que passou de giro e começou a mandar na nossa vida, um querer controlar tudo, resolver tudo com antecipação de anos... Essazinha aí precisa ser tratada.


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