terça-feira, 24 de novembro de 2020

Artigos: O Medo Na Cama


 (Publicado em 11 de junho de 2012)

Claramente, este é um artigo dirigido para o leitor. Mas que a leitora poderá tirar grande proveito para seu entendimento. Vamos começar com um exemplo clássico. Uma mulher nunca poderá exigir que um homem a penetre sob a ameaça de uma arma, ao contrário do estupro tradicional. Se o homem pode subjugar a mulher, e fazê-la ceder sob ameaça de morte, o medo que faz uma mulher abrir as pernas jamais produzirá ereção em um homem, eis porque uma mulher não pode estuprar um homem.

Em termos breves: medo subjuga uma mulher; medo incapacita um homem.

Nosso assunto então é o medo. Medo na cama.

1º. Medo no homem

São vários. “Ela é muita areia pro meu caminhão”. Isso quer dizer que eu tenho que ter um desempenho espetacular, uma ereção incrível que produza múltiplos orgasmos, senão ela vai me achar o último dos homens. O resultado mais comum disso será: a) ejaculação precoce (que costuma acontecer em situações incômodas na cama, para que a coisa se resolva rápido); b) impotência (incapacidade ou insuficiência de ereção) independente de desejo, e este foi o sucesso do Viagra e similares, pois conseguiam ereção na presença do desejo. Os únicos artefatos que conseguem ereção na ausência do desejo são as injeções locais de prostaglandinas e as próteses penianas.

Vê-se aí que o homem não está ali para brincar, para se divertir, para partilhar um jogo amoroso com a mulher. Ele está diante de uma banca examinadora, uma prova de masculinidade. Ele está com a inimiga, tal como estávamos diante de nossos examinadores de prova oral.

2º. Medo na mulher

Os velhos tempos em que a mulher se reservava a um papel passivo já se foram. As feministas exigem que elas tenham, não só um desempenho formidável na cama, como também sejam capazes de múltiplos orgasmos, sob pena de fracasso. Elas passaram a ter medo do homem. “Como ele irá me julgar? Será que vai achar que eu sou boa de cama?” Em vez de parceiros, tornaram-se adversários desconfiados. Essa desconfiança se passa em silêncio, sem confidência de suas inseguranças, sem cumplicidades, sem solidariedades, sem simpatia, só aquela mistura de tesão atrapalhado pelo medo.

Por isso imaginei uma cena de um casal que combina, pelo telefone, de ir para a cama depois de ler um desses livros:

— Querida, você leu aquele livro?

— Li, que parte?

— Aquele capítulo… o da cama…

— Ah, eu adorei!

— Eu também! Você acha que tem a ver conosco?

— Tem tudo a ver, mas eu morria de vergonha de te falar… Você é um amor de me contar que achou que se parece conosco…

— Conosco, quem, cara pálida? O problema é todo teu!

— Sua peste! Eu te odeio!

—Tô brincando, amor, eu tava doido pra experimentar com você o que o cara sugeriu…

— Então vamos planejar?

— Você começa, tá?

— Você vai querer que eu esteja completamente… animado desde o começo?

— De jeito nenhum, o que eu quero é chamego, é carinho leve, é beijinho no pescoço, é deitar de conchinha… e você?

— Você sabe que eu tenho vergonha, mas que eu adoro que você faça carinho, bem de leve, nos meus mamilos?

— Ai, amor, que lindo que você confessou, às vezes eu tentava e você me afastava, e só de eu ouvir você no telefone eu tou toda entusiasmada…

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Materia publicado na Folha de São Paulo.


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