terça-feira, 24 de novembro de 2020

Artigos: Falar sobre sexo

 (Publicado em 11 de junho de 2012)

It’s a puzzlement!”, como diria o Yul Brynner, como rei do Sião (“é uma complicação, uma encrenca”).

Você pode tentar a linguagem de um médico, e ela será engravatada ou/e incompreensível, mas ninguém vai ficar embaraçado.

Você pode tentar ser mais… digamos, pedestre. Todos vão te compreender, mas com rubor nas faces.

Você pode ser infantil, e chamar a genitália feminina de “pipita” e a masculina de “piupiu”, “bilau” e quejandos (se você for ao dicionário, vai encontrar uma extensa sinonímia para ambos – experimente, que é de rolar de rir), todos vão te entender, mas você soará ridículo.

Aliás, tenho uma sobrinha que é bióloga de renome mundial, e me explicou que quando queria se referir a seus próprios genitais, dizia “lá”, acompanhado de um gesto das mãos.

Quando eu dei curso de teoria freudiana (por dez anos, que deus me perdoe), fiz várias vezes um teste com as turmas: “coloquem em ordem anatômica os seguintes itens do períneo feminino, vindo da barriga para as costas:”

  1. ânus

  2. meato urinário (o lugar por onde sai o xixi)

  3. clitóris

  4. canal vaginal

O índice de erro era alto, tanto entre os homens quanto entre as mulheres. Piorava quando a questão era “qual a diferença entre a vulva e a vagina?” ou “o que são os grandes e pequenos lábios”?

Você está entendendo a encrenca em que me meti quando me pediram para escrever um artigo mensal sobre sexo? (a propósito, se você tentou responder à pergunta acima, o correto é 3-2-4-1). Acertou? Duvido.

Quantos homens sabem que seu pênis é um clitóris crescido? Que seu escroto (que me desculpem por usar a palavra mais feia da língua portuguesa, mas ela é precisa, não é um palavrão) são grandes lábios femininos costurados para conter ovários que desceram e se transformaram em testículos? Que nós todos começamos mulheres, e, em 49% dos casos os hormônios nos transformaram em homens, ou, em 51%, nos mantiveram mulheres. É. Vai engolindo esta!

Pega um espelho para ver as costuras, parecidas com uma cicatriz, para descobrir que elas vão do ventre do pênis (é, a parte de baixo é a barriga e a de cima são as costas) e continuam até o ânus, e que tudo isso se chama períneo, como nas mulheres, e sim, que é gostoso como o demo de se acariciar. Morra de vergonha.

Ou você pensava que as mulheres fazem perineoplastia porque só elas tem esse treco? Você também tem.

E o ânus? Ai, ai, ai… ele tem uma mucosa sensível em torno que costuma ser, para ambos os gêneros, uma zona erógena, quer dizer, gostosa de se estimular. Se for com outra mucosa então, como a língua, nem se fala. Aliás, perde-se a fala.

Ele tem dois pequenos esfíncteres, – são músculos de abrir e fechar, como os das íris dos olhos (mais luz, mais eles fecham; menos luz, mais eles abrem), que, além de serem funcionais – por isso é que a gente pode conter as emissões de gases- são também potenciais zonas de prazer.

Como falar dessas coisas? Vou ter que arranjar um palavreado nem tão lá nem tão cá.

Você percebe em que encrenca eu me meti?

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Material publicado na Folha de São Paulo.


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