terça-feira, 24 de novembro de 2020

Artigos: Eduardo e Mônica II

 



(Publicado em 11 de junho de 2012)

 

Eduardo e Mônica tiveram um bom aconselhamento de como criar os filhos, fizeram um bom casal e geraram dois filhinhos, Cristina e Rodrigo, com três anos de diferença.

Eduardo deslumbrou-se com a dádiva do feminismo: a paternidade participativa. Acordou de madrugada, trocou fraldas, deu mamadeira, pôs para arrotar, ninou na cadeira de balanço, deixando Mônica dormir, um gesto de amor com filha e mãe.

Quando Cristina cresceu, Eduardo viu-a, aos cinco anos, na banheira, deixando a água da torneira correr sobre seus genitais.

— É uma delícia, não é, filha?

—Como você sabe, pai?

—Porque o pai já teve a tua idade, ora! Mas você já experimentou o chuveirinho do bidê?

—Já…

—E é bom também?

—É…

—Então eu vou te pedir que use o chuveirinho do bidê antes que a água de nossa caixa vá toda embora.

Adoro esta história de Eduardo com sua filha. A aceitação de sua sexualidade com um ensinamento de economia.

O fato é que quando Rodrigo tinha doze anos veio perguntar para o pai se masturbação doía.

— Bem, (disse Eduardo), depois da quinta vez em seguida, dói, sim!

— Ah, bom! disse Rodrigo.

Eduardo e Mônica passaram aos filhos o fato de que sexo era algo agradável da vida: nenhum drama; nenhum vexame; direito ao desejo; algo da natureza; se Deus nos deu, ele não gostaria que nos envergonhássemos dele.

Quando Cristina tinha uns quinze anos, Eduardo “flagrou” ela ficando com um amiguinho numa festa. Ela já tinha explicado para ele a diferença entre ficar, estar ficando, namorar e morar junto (esse negócio de noivar “é para gay, pai”, e casar, bom, pode ser). Eduardo ficou meio perplexo, mas entendeu. Cristina veio falar com o pai, depois.

— Pai, você ficou meio bolado de me ver ficando?

Eduardo foi brilhante:

— Não, minha filha. “Ficar” é como brincar de sexo. E, você sabe, sexo é como dirigir carro: delicioso, mas que envolve riscos graves. 

Você vê que eu tenho feito você aprender a andar de velocípede, de bicicleta, de patins, de cavalo, e tudo para quê? Para que você tenha noção de direção, distâncias, prudência, estabilidade, de responsabilidade, de respeito com o outro, de cuidados com você, e com o outro. Obediência a regras, de exigência que o outro obedeça a regras.

Era tudo uma brincadeira que envolvia um conceito: você está se preparando para uma prática que envolve algo muito mais sério: o risco de morrer, de matar e de ter sua reputação arruinada. Isto vale para a prática da direção de automóveis quanto para a prática do sexo. colocar cinto de segurança, por camisinha, não beber antes de dirigir, não ficar bêbada com alguém que você não confia, e assim por diante.

Cristina abraçou seu pai, grata e com orgulho.

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Material publicado na Folha de São Paulo.


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