(publicado em 12 de maio de 2011)
Do ponto de vista da mãe natureza nós já nascemos com o sentido da vida, embutido em nossos softwares cerebrais, completamente pronto.
Dizem os genes masculinos para os seus portadores: “Procrie o mais que puder com o maior número de mulheres possível, escolhendo sempre as mais belas, as mais jovens, as mais dóceis, as mais inteligentes e as mais atenciosas com suas crias. Dê alguma atenção e ajuda a elas para que suas crias não sejam prejudicadas, mas nada que te impeça de partir para a próxima. De preferência, tenha um harém bem cuidado por eunucos (você não vai querer criar filhos de outros, claro) e vá incorporando novas pelos mesmos critérios. Para isso, você precisa se preparar desde o início da vida: torne-se belo, forte, alto, inteligente, mas sobretudo rico e poderoso. Lidere guerras que possam tomar do inimigo (qualquer outro homem) suas posses e suas mulheres, pois isto te enriquecerá e encherá teu harém mais ainda (um sultão do século 19 teve 840 filhos, um exemplo de homem comandado por seus genes). Se a política do seu pais te obrigar à monogamia, drible-a, sendo um polígamo seriado: você tem dinheiro para sustentar oito ex-esposas e suas crias, e você tem tempo para isto, já que os homens não envelhecem, podem continuar acumulando dinheiro e poder, além de serem férteis até a morte.”
Dizem os genes femininos para as suas portadoras: “Procrie o mais que puder com os homens mais belos, altos, fortes, inteligentes, agressivos, mas sobretudo ricos e poderosos. Se possível, case-se com um deles e cuide para que ele te prestigie e te dê garantias de provimento, para você e suas crias pelo maior tempo possível. Se você não conseguir um topo de linha, pode se casar com um mais ou menos: você sempre pode se oferecer e procriar com o patrão dele sem que ele saiba, e colher bons genes poderosos para suas crias, desde que a aparência delas não seja testemunha da sua traição. Prepare-se para isso: comece cedo, você não tem muito tempo, e juventude é seu maior cacife. Procure ser bela, e o sendo, pareça recatada: isto aumenta seu preço de compra e ilude o homem com presumida fidelidade sua. Não conseguindo ser bela, pode ser atirada e oferecida, mas procure parecer bela, usando todos os expedientes ao seu alcance para isto. O mesmo serve para a juventude (velhas nunca foram símbolos sexuais): pareça sempre jovem. Malhação, plásticas e pintar os cabelos servem a isso. Cuide bem de suas crias, pois serão raros os homens que se preocuparão com isto.”
É, a natureza é cínica e cruel para atingir seus objetivos. Ao ponto de os biólogos dizerem que a galinha é uma máquina inventada pelo ovo para fazer outros ovos.
Mas nós somos um bicho que pensa, que deseja ética, que filosofa, e que, portanto, busca um sentido na vida que difira daquele dos genes. Isto resultou em que há inúmeros “sentidos da vida” criados por nós, mas meu objetivo era falar do que ninguém fala: da natureza humana, esta força poderosa que carregamos ser saber.
Material publicado na coluna “Natureza Humana”, da Folha de São Paulo.
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