quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Natureza Humana: Dignidade Genética

 (publicado em 09 de maio de 2011)


Éramos uma família grande, morando numa casa grande de classe média alta no Cosme Velho, RJ, anos 60, quando Seu Amadeus veio ocupar a vaga de faz-tudo. E fazia. Menos servir à francesa, mal menor, pois fazia o resto tão bem que nossa mãe relevou. A casa era povoada por três gerações: meus pais; nós e os netos deles (eventualmente). Todos os netos eram apaixonados por ele. Os netos suíços, igualmente apaixonados por ele, chamavam-no “Messieur Badê”. Nós aprendíamos com ele se ia chover, pois “o Cristo cobriu-se com seu manto” (a estátua envolveu-se em nuvens), um jeito manso de dizer, os olhos perdidos na direção do Corcovado…

Ele ensinou as calopsitas a assoviar, as avencas a crescer. Quando eu matei a cascavel com um tiro de ’22, ele, serenamente, cavou um buraco de 1m para enterrá-la: “É garantia dela não voltar”.

Material publicado na coluna “Natureza Humana”, da Folha de São Paulo.

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