(publicado em 01 de fevereiro de 2012)
Sou hétero, mas me sinto esquisito, pois descobri que não gosto de penetrar. Acho cansativo. Prefiro ficar horas nos carinhos (gosto mais de receber, mas também gosto de fazer). Além disso, meus mamilos e a pele externa do meu ânus são verdadeiros clitóris. Isso é anormalidade?
Não. Isso se chama singularidade. Primeiro, meus parabéns pela sorte que você tirou ao ter tantas zonas sensíveis. Um amigo politicamente incorreto me dizia, “Esse negócio de meter é pra operário. Brincar é muito melhor. Preliminares? Isso supõe que o jogo só começa na penetração? Ora, faça-me o favor!”
De fato, a mãe natureza quer que penetremos (essencial para a procriação), e o senso comum estabeleceu uma linha de montagem ditatorial sobre o sexo, sobretudo para os homens: desnudamentos; algum estímulo genital prévio à penetração; ereção obrigatória (a causa do sucesso dos Viagras); penetração com aeróbica prolongada para dar orgasmo à moça (que se sente obrigada a tal); cumprida a obrigação, ejacular. Os que sabem que estamos obedecendo essas ordens podem se rebelar contra elas e inventar, como você inventa. Não se trata de estabelecer um novo “certo”, mas de dar espaço à individualidade. Um diálogo de coxias me foi contado pela atriz, minha paciente:
Ele : Fulana, você gosta de pau mole?
Ela : Adoooro!
Ele : Então eu vou te levar à loucuura! (Pano rápido)
Material publicado na Folha de São Paulo.
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