quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Consulta: Todos Devem Se Analisar?

 (Publicado em 31 de janeiro de 2012)


Dr. Daudt, sou psicanalista como o Sr., e sua última resposta me deixou intrigada, pois sempre achei que todas as pessoas deveriam fazer análise, enquanto o Sr. parece querer restringi-la a “ambições emocionais”. Poderia ser mais claro?

Aparecida

Prezada Aparecida,

Já briguei muito por conta desse tema. Mais nos anos 70, quando a psicanálise parecia arrebanhar fanáticos que “interpretavam” qualquer coisa dita em ambiente social, e que defendiam essa sua tese. A psicanálise é: a) uma teoria sobre a mente e b) uma psicoterapia. A primeira é melhor que a segunda. Ela é fruto das deduções geniais de um cientista (Freud), mas só pode ser considerada “um conhecimento que aspira ser ciência”, como um dia a astronomia foi. A ciência é, por definição, humilde. Sabe que suas teses são vulneráveis a novas descobertas. É uma permanente busca da verdade, sem dogmas, sem fé (coisas de religião). Um psicanalista não é, portanto, um cientista. Mas pode ter atitude científica. Fico feliz ao ver a neurociência confirmar várias intuições de Freud, mas me rebelava contra os colegas (e analisandos) que queriam dar à psicanálise essa importância de “saber acima dos outros”, autoritários “iluminados”, regulando a vida das pessoas, enunciando dogmas, pois a estariam transformando numa religião. Olhando os leigos como os jesuítas olhavam os índios.

Quanto às ambições emocionais, falo daqueles que sofrem com seus conflitos internos e querem se livrar dos aluguéis mentais que eles produzem, para poder viver e amar de maneira sintonizada com seus desejos mais autênticos. Enquanto a teoria da mente é um deleite para as ambições intelectuais, a psicoterapia pode ajudar, e muito, nessas ambições emocionais. O tema é enorme. Meu espaço, não. Espero que esta síntese possa respondê-la.

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