(Publicado em 01 de fevereiro de 2012)
Fui casado por 12 anos com uma moça que tinha dois filhos. Eu, sem filhos, ajudei-a por esse tempo todo de demandas e exigências de serviços. Por ter depressão crônica não agüentei mais e me separei para cuidar da minha doença. E agora ela me considera um fdp. O Sr. não acha isso injusto?
Acho, mas ela não acha. Pelo conteúdo da sua carta, desde o início ela lhe prometeu ser a galinha que põe seus pintinhos debaixo da asa. Foi isso que te encantou, pois, como é do seu tipo de depressão, você é uma pessoa que precisa de cuidados permanentes, e não pode cuidar de ninguém. Era propaganda enganosa.
Durante esses anos você quis converter ela no personagem prometido, mas foi descobrindo que era ela que queria ser cuidada, ser servida e ser prestigiada. Como você melhorou da depressão por causa dos remédios e da terapia, foi se tornando mais intolerante às divergências que vocês tinham desde o início. Você querendo viver uma vida simples, pouca, lenta e delicada, de contemplação e sossego, e ela querendo viver uma vida fodona, de grandes gastos e ascendência social. Você fracassou em convencê-la, e esta é sua tristeza. Mas deixe-a considerá-lo um fdp, pois é a melhor maneira de ela se consolar de tê-lo perdido. A grande maioria das mulheres separadas encontram consolo nesta idéia. “Todos os homens são iguais”, dizem elas com suas colegas na mesa de um bar.
Material publicado na Folha de São Paulo.
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