(Publicado em 01 de fevereiro de 2012)
O que o Sr. tem a dizer sobre a frase “tu és eternamente responsável por aquele a quem cativas”?
É uma pena que um livro tão bonito como “O pequeno príncipe” contenha tamanha batatada. O verbo “cativar” (na bela tradução de D. Marcos Barbosa do francês apprivoiser) guarda proximidade com “tornar cativo, prisioneiro”. Em termos de relações afetivas, é um duplo desastre a frase de S. Exupéry.
Seriam dois prisioneiros: o cativo e o cativante. Ou um equivalente à promessa ridícula das cerimônias de casamento, “até que a morte vos separe”. A união das pessoas se dá por um dia-a-dia que lhes desperta vontade, baseada no respeito e no acolhimento do indivíduo que é o outro. O que não exclui um comprometimento sério, sobretudo quando se associam para criar filhos. Estes sim, poderiam reclamar responsabilidade, não de quem os cativou, mas de quem os gerou, segundo o provérbio americano “dez segundos de prazer; trinta anos de preocupações”. Ser cativante, ou sedutor, é resultado de uma atração por alguém que ainda não se conhece. Se ao longo do tempo aquela pessoa mostra não se encaixar nos nossos desejos, ou tenta nos aprisionar pelo sentimento de culpa ou por ameaças, temos a liberdade de mudar de idéia, não porque um está errado e outro certo, mas porque as divergências fundamentais tornaram-se claras.
Material publicado na Folha de São Paulo.
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