(Publicado em 01 de fevereiro de 2012)
Recebi uma carta adorável do Prof. Sobreira. É um professor aposentado das ciências humanas, que, apesar de sempre ter acreditado que não existe natureza humana, que nos formamos a partir da cultura que nos cerca, admira e lê meus textos. Que falam sempre o contrário do que ele pensa: que somos formados meio-a-meio, genética e cultura; que os mamíferos não são tão diferentes de nós; que temos instintos que nascem conosco; que a formatação de nossos cérebros como masculinos ou femininos vem com a hereditariedade; que a homossexualidade se apresenta desde o nascimento, enfim, que assim como Edgar Morin (“O paradigma perdido: a natureza humana”, 1973), estou convencido de que não somos uma criação em separado, mas parte integrante dos seres do planeta. Ele quer que eu explique melhor meus pensamentos.
Pois. Quando quis ser psicanalista, vindo da medicina clínica, adentrei alguma coisa que se parecia uma religião: instituições bem reputadas de ensino com dogmas inquestionáveis e sacerdotes (os analistas didatas) guardiões dessas verdades imutáveis. Como era médico, cientista acostumado a questionar “verdades”, fiz o que Freud fez: tornei-me independente, um pensador despudorado. Por isto me tornei permeável a disciplinas externas, como a psicologia cognitiva, a neurociência e ao neodarwinismo, minha maior paixão depois da lógica. As humanas, no Brasil, vêm sendo contaminadas há décadas pelos filósofos franceses, relativistas e culturalistas. Eles têm aversão às ciências exatas, a conceitos claros, à neurociência, ao evolucionismo. Tenho uma sugestão: leia “Tabula rasa”, de Steven Pinker, que, como eu, adora a razão, a clareza e a argumentação transparente.
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