(Publicado em 31 de janeiro de 2012)
Meu filho morreu num acidente de carro há um ano. Voltava de uma festa como carona de um amigo que bebeu demais, mas sobreviveu. Ele tinha 20 anos, estava na faculdade e namorava uma menina encantadora. Continuo em frangalhos. Isto vai passar? Porque não quero que passe!
Lydia
Prezada Lydia,
Não. Não vai passar. Você nunca mais será a mesma pessoa, pois experimentou (experimenta) a pior dor psíquica possível a um ser humano. Gostaria de parar por aqui e abraçá-la, mas tenho que pensar nos outros leitores. Os americanos, que têm mania de gráficos, fizeram uma “curva de dor” relativa à perda de filhos. Ela começa baixa, no aborto espontâneo de até três meses. Vai crescendo sem parar até atingir seu ponto mais alto: um filho, na casa dos 20. Se ele tivesse deixado descendentes, a dor seria menor. Se ele tivesse 40 anos ou mais, idem. Mas o que importa é sua dor, seu luto neste momento. Freud descreveu o luto como um processo doloroso que se divide em períodos. O reconhecimento da morte (eis a razão de se poder ver o corpo no velório). A sensação de vazio, a perda de todo um investimento. Finalmente a recuperação das boas lembranças, a herança afetiva do ente querido. Lydia, não há apenas um jeito de você homenagear seu filho, de mantê-lo vivo de algum modo. Você pensa que sua dor despedaçadora é este jeito, por isso não quer que ela passe. Mas conceba a beleza que foi a experiência de conviver com ele. Tudo o que você aprendeu e desfrutou de sua breve existência. Permita-se aceitar a herança dele em seu coração, e você conseguirá um pouco de paz, mesmo que nunca mais volte a ser a pessoa que era.
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