quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Consulta: Paixão Tardia

 (Publicado em 31 de janeiro de 2012)


Casei-me cedo, meio sem querer, sem paixão, por aquelas coisas que a sociedade espera de nós. Da mesma maneira tive dois filhos. Isso foi uma revolução em minha vida, pois com eles aprendi o que era sentir amor. A idéia de sentir amor, de me apaixonar de verdade por alguém, tomou conta de mim. Minha vida de casado não era insuportável, mesmo nossa vida sexual era satisfatória, poderia “ir levando” a coisa por um tempo indeterminado. Mas a idéia de estar disponível para a paixão me fez, depois de dez anos de casamento, ambicionar uma vida mais plena, e afinal, pedir a separação. Não desgosto de minha ex-mulher, acho que podemos ser amigos para sempre, e também não acho que ela tenha sido assim tão apaixonada por mim ao ponto de que eu tenha destruído sua vida. Mas isso é muito diferente do que fui ensinado a fazer. O sentimento de culpa me ronda, assim como a dúvida se fiz uma imensa besteira. O que pode me dizer?

Rodolfo.

Prezado Rodolfo,

Quantos de nós não têm a mesma dúvida, o mesmo questionamento que você? O que me revolta é que caiamos na linha de montagem que o senso comum nos impõe. “Já me formei, já estou empregado? É hora de entrar para o rol dos ‘homens sérios’ e me casar. Vinte e dois anos é muito cedo para formar uma sociedade pelo resto da vida. Se você pudesse voltar atrás, eu sugeriria uma convivência de dois anos, pelo menos, antes de ter filhos. Sei que agora é tarde, mas pense bem na próxima vez. A paixão não é um bom critério para ter filhos. O amor companheiro, se ele surgir (porque a paixão passa em três anos), é. Quem somos nós para julgar sua ambição? Quem pode estar dentro de você para saber dos seus desejos? Consulte-se, por algum tempo para entender os custos e os benefícios de sua decisão. Não queime pontes que impeçam uma volta à convivência com sua família.

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