(Publicado em 01 de fevereiro de 2012)
Vou lhe dizer uma coisa que tenho medo de dizer até para mim mesma: descobri que não gosto de minha mãe. Eu sou uma pessoa horrível?
“Você é! Afinal, mãe é mãe, a pessoa que te presenteou com a vida e é merecedora de eterna devoção, não há nada de mais sagrado!”
Esqueça tudo o que escrevi até agora, pois foi apenas uma caricatura da mais poderosa religião que existe: o senso comum. Essa religião não tem nada escrito, como a bíblia, mas tem tudo aludido de forma sutil. E, por ser sutil, não tem como ser contra-argumentado. Experimente dizer por aí que você não gosta da sua mãe e as pessoas não dirão nada. Apenas fecharão a cara, suspirarão, revirarão os olhos e… pronto: tudo está dito, e da pior maneira. O que está dito é que você é horrível, que sua mãe é perfeita, que você está contrariando as leis de deus e da natureza ao mesmo tempo, e que você merece o fogo do inferno.
Mas, vamos pensar com racionalidade. A mãe natureza não está nem um pouco interessada em nossa felicidade, apenas em que procriemos. Por causa disso, pessoas, sem a menor vocação para pais, procriam à vontade. Lewitt, em seu “Freakonomics”, demonstrou que filhos indesejados se destinam à marginalidade, sejam dos pobres ou dos ricos, e que o direito de aborto desses filhos foi fundamental para a redução da criminalidade nos EUA. Ou seja, você pode ter constatado a incompetência de sua mãe para a função de mãe, e não deve ter a menor culpa por isto.
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