quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Consulta: Mulher Gay

 (Publicado em 31 de janeiro de 2012)


Vivo há 8 anos com uma mulher, nos conhecemos há 10. Ela foi minha primeira experiência homossexual.  Nossa relação trouxe consequências, no mínimo, desastrosas para minha vida familiar, profissional e financeira. Porém, apesar de tudo tenho por ela uma (paixão, dependência, vício???) atração mórbida.  Hoje moramos juntas por conveniência, mesmo assim ela já me pediu para que fosse embora.  Não transamos a quase 1 ano,  e em alguns momentos ela chega a ser carinhosa.  Penso em me envolver com outra pessoa para ver se essa “doença” acaba.  Queria muito poder saber porque não ponho um final nessa situação, do que tenho medo?  Vivo deprimida e infeliz.  Como descobrir o que acontece comigo?

Vanja

Prezada Vanja,

A homossexualidade feminina funciona bem diferente da masculina. Quando Kinsey fez seu relatório sobre a sexualidade dos americanos, em 1948, ele estabeleceu uma escala de comprometimento com o desejo homoerótico para os homens, que ia de 0 a 6 (em escala crescente de desejo homossexual: 0 = nenhum; 6 = absoluto) pois entendeu que, com as mulheres, a coisa era muito mais variável. Nenhuma podia ser bem classificada (talvez a zero e a seis pudessem). Elas tinham menos medo do rótulo de homossexuais do que do rótulo de prostitutas, e portanto acabavam tendo “períodos” de homossexualidade, e muito poucas se chamavam de lésbicas. Para você ter idéia, o número do grau 6 nas mulheres é a metade do de grau 6 nos homens (de 2 a 3% da população masculina contra 1 a 1,5% da feminina). Outra diferença é a do grau de envolvimento pessoal. Como os homens tendem a olhar o sexo dissociado da relação pessoal, e com as mulheres costuma acontecer o contrário, os relacionamentos lésbicos são romances. Você não verá nenhuma lésbica passando num banheiro público depois do trabalho à procura de uma “rapidinha”, coisa comum entre gays.

Você vive, ao que parece, uma situação que é mais comum entre casais de homem e mulher. Não é incomum, nos relacionamentos estáveis de homossexuais de ambos os sexos, que eles se espelhem nos relacionamentos héteros: ciúmes, exigências de fidelidade, papéis de macho e fêmea caricaturalmente assumidos, dependências financeiras, implicâncias e crueldades, sado-masoquismos, medo de solidão, insegurança de encontrar alguém mais (“ruim com ela, pior sem ela”), ilusão de que aprisionar é garantir alguma segurança, enfim, toda espécie de praga que corrói o bom amor companheiro que poderia existir entre duas pessoas. Essas pragas podem preencher uma vida, e assim tornarem-se um vício. Os vícios são muito difíceis de combater. O tratamento dos vícios (sobretudo os vícios de parceria, como a roda de amigos alcoólatras, “junkies” e casais) exige mudança de círculo social, separações, mudanças de emprego, às vezes de cidade. É uma dureza. A esperança reside numa expressão americana típica: “Get a life!” (em uma tradução livre seria algo como “Arranje uma vida para viver, não fique vivendo na órbita de ninguém!”). Eu sei que não é fácil, sinto muito.

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