quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Consulta: Medo da Velhice e da Morte

 (Publicado em 01 de fevereiro de 2012)


Acabei de fazer 60 anos e a velhice e a morte começam a me assombrar. O que fazer?

É coincidência, mas minha carteira de identidade me diz que também completei 60 anos recentemente. É sempre um marco. Quando eu tinha uns 20 anos, considerava que uma pessoa de 60 era um ancião quase morto. Alguém disse que “a vida é uma doença sexualmente transmissível com 100% de fatalidade”. Mas, como a lepra, é de deterioração lenta, o que nos faz ir nos acostumando com seu avanço. Ou mesmo desfrutando da nossa única idade: estamos vivos. Reparei que minha idade varia, ignorando o que diz o RG. A maior parte do tempo tenho 25. É muito confortável. Em outras horas (ou dias) tenho 17, o que é uma delícia, pois ter 17 aos 60 é ser um adolescente com sustento próprio, sabedoria de vida, sem precisar obedecer ou prestar contas a ninguém. É mais raro, mas às vezes tenho 10. Aí é uma festa de curiosidades, invenções e brincadeiras. Tudo isso com um programa “gente grande” dentro da minha cabeça, que existe exclusivamente para proteger a criança e o adolescente, e deixá-los brincar à vontade.

Minha mãe está com 95 e diz que “a velhice é aquela coisa” (que ela não fala palavrão). Tem suas razões, pois a despeito de uma cabeça ótima, mal vê, mal fala, mal ouve, mal anda. É capaz que a vontade de viver lhe suma, como sumiu de meu pai aos 102. Ele então se retirou para dentro de si e morreu em dois meses. De qualquer maneira, alguém mais disse: “A morte é um momento, e não há de me roubar da vida mais do que isso: seu momento”.

Um comentário:

  1. Temos medo da doença, do abandono, não da solidão ou da morte, e sim do sofrimento.

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