(Publicado em 31 de janeiro de 2012)
Por conta da violência geral, da mulher que atirou no homem que a assaltava, da outra que esfaqueou o deputado, das milícias nas favelas, tenho discutido muito com meu filho. Ele diz que o linchamento, a justiça com as próprias mãos, os matadores de bandidos é que estão certos, e se eu não fico feliz quando um desses casos aparece nas notícias, e se é possível confiar na polícia. Sou contra as posições dele, mas sinto vergonha de às vezes achar que ele está certo. Como vejo que o Sr. responde cartas sobre outros assuntos diferentes dos sentimentais, eu pergunto: quem está certo, afinal?
Eugênia
Prezada Eugênia,
Quando a agricultura (há 10.000 anos) permitiu que pessoas desconhecidas vivessem em um lugar só, em vez de ficar dispersas em pequenos grupos em busca de comida, houve necessidade de governos. A principal função deles era impor, com violência, leis de convivência pacífica. Até então, se uma pessoa encontrava outra desconhecida, partia para matá-la, pois sabia que ela ia fazer o mesmo. Jarred Diamond chamou esses governos de cleptocracias (governo de ladrões). Eles roubavam o povo através dos impostos, em troco de serem os únicos donos da violência, que seria usada para impor as leis de segurança pública. Se prestavam mesmo esses serviços, o povo os tolerava como pouco ladrões, e andavam nas ruas despreocupados, e abriam mão de usar violência. Quando os governos roubavam muito e não forneciam segurança, a violência voltava para as mãos dos indivíduos.
Nada mudou. Até hoje esse contrato do povo com os governos continua valendo. E a principal função dos governos continua sendo a segurança pública. Por aí, e pelo estado a que chegamos, posso responder que, tanto você quanto seu filho, têm suas doses de razão.
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