quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Consulta: Doença Grave Na Família

 (Publicado em 01 de fevereiro de 2012)


Minha mulher está com uma doença grave de prognóstico complicado. Gostaria de estar otimista. Mas não consigo. Como não transmitir aos meus filhos pequenos ( de 6 a 9 anos) a minha angustia?

Não há jeito. Eles saberão. As crianças têm antenas parabólicas a qualquer coisa que se refira a seus interesses, de separações a morte dos pais. É um pouco parecido com o dilema “devo contar ou não que ela tem câncer?” Não adianta. Todos os pacientes de câncer sabem que estão para morrer. A ordem foi: “Não falem nada”. Mas a pessoa começa a receber parentes que não via há anos, com faces compungidas e mensagens encorajadoras. É o suficiente. Atitudes falam mais alto que palavras. A questão é se eles querem ou não falar do assunto. E é de seu direito escolher. Se eles preferem a negação, bem, é uma vontade a ser respeitada. Meu tio, a dias de morrer de câncer do fígado, me perguntou: “Eu vou escapar desta?” Entendendo que ele preferia a negação, respondi-lhe: “Claro que sim”. Outro paciente, do tempo que eu só era médico, que também havia decidido pela negação, na véspera de sua morte me perguntou: “Então, minha moléstia era câncer?” E lhe disse: “Era sim, mas por dois anos você viveu plenamente, desfrutou da companhia da família”. E ele me respondeu: “Muito obrigado”.

Explique a seus filhos que mamãe está doente, e que precisa de carinho. Não lhes diga que ela vai morrer, pois que a morte é um momento, e não deve roubar da vida mais que isto: um momento.

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