quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Consulta: Desejos Não Atendidos

 (Publicado em 31 de janeiro de 2012)



Eu gostaria de fazer uma pergunta que me intriga: 

Por as pessoas (nós) sempre conseguimos para nós mesmos aquilo que não desejamos.
 Por favor deixe me expicar: não desejamos a infelicidade, no entanto a temos, não queremos a miséria e atemos, desejamos a paz e; temos a guerra. Por que por mais que desejemos algo ele sempre vem como nós não o desejemos.

Não desejamos o infortunio dos outros e fazemos para que
 eles tenham.

 Acho isto uma questão de dificil compreensão para mim. Pobre mortal (felizmente) pois jamais desejaria a imortalidade. 

Obrigado.

Abilio de Souza

(colocou seu endereço, não divulgado por esse site)

p.s.: nunca quis morar neste endereço e estou há 20 anos nele

Prezado Abílio,

Sua carta fala de duas coisas-chave que guiam nossa vida: o desejo inconsciente e a natureza humana. Claro que ninguém tem vontade de guerra ou de miséria. Mas a vontade é a parte consciente do desejo. Cada vez que eu falar em desejo você pense numa força que nos move, mora em nosso cérebro e da qual conhecemos muito pouco. A mãe natureza, através da seleção natural, enfiou ela em nossas mentes como um programa de computador, um software. Ela não está interessada em nossa felicidade. Só quer que a gente reproduza. Se, para a reprodução, interessar a conquista da tribo inimiga (que só é inimiga porque compete conosco), o desejo vai nos empurrar para a guerra, para o rapto, para o estupro, para a rapina dos bens alheios. Nós somos ladrões, trapaceiros, estupradores, levadores de vantagem, todas as coisas horríveis que se puder imaginar, se isso servir à reprodução. Mas temos também inteligência e consciência, o que nos permite buscar a felicidade. A ética e a justiça estão no cérebro. Elas são interesseiras quanto à reprodução, pois não somos apenas importantes socialmente (uma ambição de sermos desejáveis sexualmente) pelo poder e pela riqueza, mas também pela sabedoria e pela boa reputação de justeza nas trocas que fazemos. Ambição de importância não é nada feio. Feio pode ser o jeito de adquirir essa importância. O filósofo Spinoza disse que “a liberdade consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam”. É sobre isso que sua carta me permitiu falar.

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