quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Consulta: Desejo de Vingança

 (Publicado em 01 de fevereiro de 2012)


Meu marido me largou há três anos, mas ainda quero vingança. Isto é normal?

Não sei dizer, mas é triste. Porque o desejo de vingança pode ser uma prisão cruel. Você pode estar impedida de investir em novo relacionamento, ou com uma parte grande de seu capital afetivo e intelectual alugada por uma idéia obsessiva, o que é uma doença, ou usando seus filhos como artilharia contra ele, o que é pior. Ou querendo justiça por canais incompetentes, o que seria mais compreensível, ainda que ineficazes.

O desejo de vingança, como a raiva e a indignação, representam a origem, na natureza humana crua, da vontade civilizada de justiça. Tanto que sua primeira legislação conhecida era o “olho por olho; dente por dente”, hoje considerada pelos juristas como um tanto brutal. Tiradentes teve sua descendência condenada ao desterro por cinco gerações, mais branda que a condenação que Javé fez a Adão e Eva (expulsão do Paraíso por TODAS as gerações seguintes).

Mas no caso dos casais, tenho visto que as relações sadomasoquistas são mais duradouras que os casamentos. E não pense que o sadomasoquismo é aquele negócio de tachas e chicotes. Ele pode ser mais sutil. Um sádico explicito pode ser um masoquista enrustido, e vice-versa. “Oferecer a outra face” é um bom exemplo. Ninguém ficou sabendo o que gerou o primeiro tapa, mas, oferecida a outra face, um fica na posição de vítima (masoquista explícito), e o outro na de canalha (vítima do sádico sutil).

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